O que eu vejo no Justin Bieber que mais ninguém vê

Começo  por  dizer  isto:  eu  não  sou  especialista  em  música,  não  percebo  de  pormenores  técnicos e estou completamente consciente que não conheço todos os artistas pop que deveria conhecer. 

Para além de tudo isto, não sou fã de Justin Bieber. Não tenho qualquer álbum dele, não tenho sequer um tema dele no iPod e nunca vi um concerto dele. Mas sei uma coisa. Sei que estou farta de ouvir toda a gente a falar mal do Justin Bieber só porque lhe apetece e não porque tem alguma coisa contra ele.

Eu era uma destas pessoas. Há uns tempos, quando me falavam dele, tratava-o por puto, dizia que ele era estúpido e que a música dele não prestava quando nem sequer a ouvia.

Quando um dia estava com um amigo, ele tirou o iPod e mostrou-me uma nova canção do Justin. Eu comecei logo a gozar e a perguntar como é que era possível uma pessoa com um gosto musical como o dele ter uma música daquele puto no iPod. Ao que ele me respondeu: Eu não gosto de cantores, gosto de música. E assim, fiquei desarmada.

Comecei a perceber uma coisa: eu só dizia mal do Justin Bieber porque toda a gente dizia, porque era o que estava escrito na internet e porque o público que o ouvia era miúda de 12, 13 ou 14 anos. Então, eu não podia gostar dele. Foi por volta desta altura que me apercebi que estava a ser ridícula.

Quem me conhece, sabe que gosto de hip-hop e R&B e a maior parte dos meus amigos também. Tenho amigos que são fãs de Tupac, Biggie Smalls, Donell Jones e Jodecy. No entanto, e não estou a falar apenas de um ou dois, muitos deles têm os mais recentes albuns no Justin Bieber.

Com isto, comecei a pesquisar e o Bieber já não é aquele miúdo que cantava o Baby com o cabelo à tigela (não é que o penteado tenha melhorado, mas esse é outro assunto). Para mim, e acho que não sou a única a achar isto, ele evoluiu. Se é do meu gosto ou não, não interessa, mas evoluiu. Mas quer dizer, era lógico. Quando Baby foi lançada, ele tinha 16 anos e atingiu um ponto do sucesso que não estava à espera. As miúdas passaram-se e Bieber começou a ganhar milhões de dólares em poucos meses.

Não estamos a falar de um rapaz filho de alguém famoso e que começou com a ajuda de alguém. Estamos a falar de um miúdo que aos 12 anos cantava ao pé de uma sala de espetáculos no Canadá apenas porque gostava. A mãe foi publicando os vídeos no YouTube e Scott Braun, empresário americano, descobriu-o, apresentou-o a Usher e a carreira dele começou com 13 anos.

Isto trouxe consequências, claro. Hoje, só de ouvir a palavra Bieber, as pessoas começam a dizer que o odeiam e que ele não presta, entre outras coisas. É mais ou menos como o efeito Pavlov. Cada vez que o fisiólogo tocava numa campanha lá vinha o cão a salivar porque já sabia que ia encontrar comida. Com o Bieber é a mesma coisa. Mal se diz o nome dele, lá vão todos dizer mal.

E se perguntarem à maioria das pessoas uma canção dele, a maioria vai dizer Baby, que saiu há cinco anos, quando ele tinha 16 anos. É claro que nesta altura as pessoas com mais de 18 anos odiaram a música (incluindo eu), porque a canção não era para essa geração, era para uma muito mais nova.

A partir daí o ódio não parou de crescer. Desde 2013 que Justin Bieber está nas listas dos mais odiados da América. Há até várias listas na Internet com o título Razões para odiar o Justin Bieber, que apresentam argumentos como: ele tem voz de rapariga, a sua escolha de amigos e por ter dinheiro. Isto é válido?

No ranking dos mais odiados, Bieber já dividiu a lista com pessoas como O.J. Simpson, que foi acusado de assassinar a mulher, Conrad Murray, o médico que alegadamente matou Michael Jackson e Phil Spector, acusado de ter matado a atriz Lana Clarkson na sua própria casa. Ou seja, os americanos acham legítimo comparar um cantor a um assassino.

Eu compreendo perfeitamente as pessoas que o julgam pelas suas atitudes de miúdo mimado e por não gostarem da sua música. Mas dizer mal apenas porque sim é algo que não percebo. Temos de necessariamente dizer mal de um artista só porque não vamos com a cara dele? Só porque toda a gente diz?

Se me disserem também que as canções mais recentes dele não prestam eu também aceitocomo argumento, mas fundamentalismos não. Dizerem que o odeiam porque os vossos amigos também o odeiam, não. Não vejo o Justin Bieber como um ídolo. Mas vejo como alguém que trabalhou para chegar onde chegou.

Quer queiram, quer não, Justin Bieber é a maior estrela pop jovem que surgiu na última década. Gostos à parte, como é que isto pode não ter valor?