Não há nada de diferente no novo filme de Tim Burton

Uma mansão gótica, personagens estranhas e sobrenaturais, esqueletos, monstros-réplica de Jack Skellington e um universo paralelo de fantasia. Bem-vindos à “Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares”, e ao novo filme de Tim Burton, que não acrescenta nada de novo.

O pequeno Jake (Asa Butterfield), nascido na Flórida, nos EUA, queria ser um explorador e descobrir novos mundos, inspirado pelas histórias para adormecer que o avô Abe (Terence Stamp) lhe contava. A sua favorita era sobre a casa para meninos especiais onde o avô tinha vivido parte da infância, depois de ter sido obrigado a fugir, na Polónia de 1943 ocupada pelos nazis.

Quando cresce e o avô, demente, tem uma morte suspeita, Jake parte à procura de respostas neste orfanato que fica numa pequena ilha na costa do país de Gales. E descobre realmente estas personagens peculiares, com poderes sobrenaturais, que vivem numa bolha de tempo presa em 1943, afastados e protegidos de tudo o resto.

“A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares” foi feito para miúdos, e, para os menos conhecedores, o filme até pode ser uma boa introdução ao trabalho do realizador norte-americano.

É aqui que começam o sonho e a delícia de Tim Burton, porque, de facto, o argumento parece ter sido escrito para si, mas na verdade é a adaptação do best-seller escrito por Ransom Riggs em 2011, com o mesmo título.

Numa mistura entre a família Adams e os X-Men, estas crianças peculiares são realmente boas personagens, apesar de haver alguma disparidade nos seus superpoderes — Olive (Lauren McCrostie) consegue deitar fogo instantaneamente a tudo o que quiser, com as mãos; e Hugh (Milo Parker) é um miúdo que tem, basicamente, um enxame a viver dento de si. “Olhem, somos tão estranhos e creepies”, parecem gritar as personagens — nós já sabemos, Tim Burton —, mas, apesar de tudo, são bem introduzidas, e sem pressa, ao longo do filme.

A melhor é, sem dúvida, a própria senhora Peregrine, interpretada pela nova musa do realizador norte-americano, Eva Green. A sua missão é proteger estas crianças especiais dos monstros (também) peculiares que por aí andam à solta e cujo líder, Barron (Samuel L. Jackson), um vilão exuberante e pseudo-cientista louco, come olhos de crianças com poderes especiais para atingir a imortalidade.

Tudo isto tem uma estranha coerência, apesar de o filme tentar fazer o difícil e arriscado equilíbrio entre aquilo que é fantasia e as referências reais, em tom humorístico, à Flórida, por exemplo, ou aos rappers aldeões da pequena ilha galesa. Esta parte já não é “estranha”, Tim Burton, apenas não faz grande sentido.

Mesmo as regras de como funciona o tempo e o espaço neste filme são confusas, mas parece, sem nos querermos esforçar demasiado, que bate tudo mais ou menos certo. O enredo principal, contudo, é muito previsível e parece mais uma história com um herói (e este é particularmente aborrecido), daquelas que depois se transformam em trilogias, franchises ou que têm prequelas falhadas, do que um filme de culto de Tim Burton, com o seu próprio mundo. Não há grandes emoções, os momentos de felicidade ou de tristeza são pouco explorados e é sempre tudo um estagnado assim-assim. Tal como o filme, no geral.

No fundo, “A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares” foi feito para miúdos, e, para os menos conhecedores, o filme até pode ser uma boa introdução ao trabalho do realizador norte-americano. Mas Tim Burton já fez tão melhor. Existem outros livros desta saga, mas não vale a pena investir aí. Vamos apenas deixar este respirar e ficar quieto no seu próprio cantinho, está bem, Hollywood? Porque, se não acontecer, é certinho que vai piorar.