Mundo verde
Quero acreditar que qualquer adulto que diz não gostar de legumes e hortícolas, apenas não conhece grandes formas de os cozinhar, ou então não está disposto a dar novas oportunidades a alimentos que nunca gostou. Ou pior, nem sequer provou.
Recordo que em criança os vemos sempre como os maus da fita. Sempre!
Até podemos apreciar um ou outro, mas a grande maioria é claramente desprezada. E isso nem sempre é fácil de transpor com o crescimento. Educar a criança para gostar de legumes começa muito muito cedo, requer imensa dedicação e imaginação, e ainda assim não há garantias que o resultado seja o esperado.
Hoje sabemos que esta classe alimentar deveria ocupar 50% do nosso prato a cada refeição. O verde, claro e escuro, o amarelo, o laranja, o vermelho, o rosa ou púrpura, devem colorir expressivamente a refeição. Algo que nem sempre corresponde ao que nos habituamos a ter à frente em miúdos. Muitas vezes eramos obrigados a comer a sopa, e a dose diária de legumes até podia ficar por ali. Muito frequentemente os legumes vinham para o prato cozidos e temperados de forma simples, ou envolvidos no arroz ou na massa, sem grande interesse para uma criança.
Quero acreditar, até porque constato isso frequentemente, que muitos de nós, quando adultos, se rendem aos legumes e, independentemente do conhecimento geral sobre os seus valiosos benefícios, os consomem com genuíno gosto e prazer.
Levar alguém não apreciador a comer estes seres da terra tem toda uma ciência repleta de particularidades e artimanhas. O mais comum é serem envolvidos numa boa massa ou arroz (correndo elevado risco de exclusão). Mas também podem ser camuflados com outros ingredientes, podem ser desfeitos e envolvidos noutros sabores (muito frequentemente funciona), podem até ser verdadeiras peças decorativas no contexto do prato a fim de cativar pela estética.
O nosso paladar não tem de apreciar todos os sabores e texturas da mesma forma.
Muitas vezes nunca gostará e ponto. Outras vezes até aprende a saborear. O que já se mostra mais complexo e indesejável é não consumir praticamente nenhum legume recorrendo à desculpa do simplista e perentório “Não gosto!”.
Para os mortalmente resistentes aos verdes indubitavelmente cheios de potencial e sabor, podem crer que existem alternativas capazes de mudar isso. Acreditem!
Se por cá, culturalmente é muito mais comum servir os legumes simplesmente cozidos e regados com azeite e vinagre, às vezes juntando um pouco de alho, em salada ou então em formato caldeirada, por outras paragens a abordagem distancia-se bastante. Tanto no tipo de legumes usados como na forma de os confecionar são tantas as opções como as possibilidades que temos de gostar e passar a aceita-los.
Alguns conceituados e bem-sucedidos pratos de legumes estão bem próximos. Da Grécia vem, por exemplo, o delicioso Spetsofai. O conhecido e reconfortante Ratatouille chega de França. Já Itália brinda-nos com a deliciosa Caponata. De terras mais distantes temos o Gado Gado, uma exótica salada Indonésia, ou o Pico de Galloque chega do México para refrescar, e é parecido com a Pipirrana dos vizinhos espanhóis.
Ninguém poderá dizer de antemão que não aprecia um bom pratinho de legumes, seja à nossa moda ou à moda internacional, sem o provar. Isto é básico! Pode até levar pão, carne ou queijo a acompanhar, mas se a base for farta em legumes variados, confecionados de forma saudável, vale muito mais a pena.
Além da sopa e da salada, onde os legumes e vegetais são obrigatoriamente a alma dos pratos, se estes forem muito simplesmente salteados numa wokou assados no forno, com os temperos certos e o tempo de cozedura adequada, criam acompanhamentos de tal forma deliciosos que o difícil é não repetir.
Às vezes basta liga-los a especiarias mais arrojadas ou ervas aromáticas menos conhecidas do nosso paladar
Porque, incrivelmente, ainda há muitos resistentes, nunca é demais reforçar que: os legumes não têm de ser chatos, não têm de ser desinteressantes, não têm de ser insípidos e não tem de ser conotados com nenhum tipo de ideal ou extremismo. Tem apenas de ser respeitados, cozinhados de forma deliciosa e consumidos com prazer. Porque merecem. Fornecem vitaminas, minerais, fibras água e fitoquímicos protetores, como nenhum outro tido de alimento, evitando assim o risco de uma série de doenças dos nossos dias.
Experimentem dar largas à imaginação e explorá-los de uma forma diferente do habitual, eventualmente mais condimentada com sabores que agradem, mais ou menos elaborada, mas sempre bem envolvente. E vamos ver se depois dizem que “brócolo é comida de gaja”. Duvido!