Marilyn, a mulher que não há-de morrer

A carreira, as aventuras, os amores e os desamores de um dos maiores ícones do século XX, e protagonista da exposição “Marilyn Unseen by Milton H. Greene”, que pode ver no nosso Centro até 26 de novembro. A entrada é gratuita.
“Mulheres comportadasraramente fazem historia.”

Teria hoje 91 anos, se ainda fosse viva. Na nossa memória, no entanto, permanece imortal, como todas as divas. A verdade é que partiu cedo demais, com apenas 36 anos, mas deixando-nos muito: as conquistas enquanto mulher, a inspiração, a irreverência e ousadia – presentes ainda hoje num imaginário coletivo que ultrapassa fronteiras e gerações.

Foi modelo, atriz, cantora, e lutou para lá chegar. Foi um encontro inesperado – com um fotógrafo com quem se cruzou ainda muito nova e acabou por se envolver – que lançou a sua carreira. As fotografias que fizeram juntos fizeram sucesso e Marilyn começou a trabalhar como modelo pin-up e atriz: em 1950 estreou-se em Hollywood, inicialmente sempre com pequenos papéis em que interpretava a típica e estereotipada “loira burra”. A sua imagem acabou por ficar para sempre colada a este estereótipo, algo que a incomodava muito e que considerava injusto.

Cinco anos depois da estreia na Meca do cinema dá vida a uma mulher deslumbrante que tirava do sério o vizinho casado. Uma personagem sem nome, de “O Pecado Mora ao Lado”, mas que simboliza aquela que é, até hoje, uma das imagens-ícone da Sétima Arte: o vestido branco esvoaçante ao passar pelo respiradouro do metro. E que a oficializou como alvo do desejo dos homens e da inveja das mulheres.

Talvez tenha sido esta dualidade que ditou uma vida de desamores. Insegura, Marilyn Monroe procurou sempre nos homens a estabilidade que nunca teve durante a sua infância, passada a saltar de orfanato em orfanato. Casou pela primeira vez com apenas 16 anos, a segunda com 27 e a terceira com 30, com muitos romances além destes para contar – fora todos os que a imprensa falsamente lhe atribuiu. Frank Sinatra, Sam Giancana e Marlon Brando foram apenas alguns dos romances mais mediáticos de Monroe. No ar ficaram nomes como Robert F. Kennedy, Eddie Fisher, John F. Kennedy – a quem cantou o inesquecível “Happy Birthday, Mr. President”, em 1962 – e mesmo a colega Joan Crawford, sem que nunca se provasse a veracidade de nenhuma das alegações. O fotógrafo Milton H. Greene – cujas fotos estão agora expostas no nosso Centro – foi também um dos supostos namorados de Marilyn que nunca ninguém soube confirmar: a relação de amizade entre os dois levantou muitas suspeitas, as zaragatas ainda mais, mas o que mais sobressaía era a cumplicidade que transparecia entre os dois nas fotografias que Greene tirava a Monroe.

Com mudanças de humor constantes e demasiados sonhos para uma pessoa só, Marilyn viveu sempre na ânsia de encontrar a felicidade. Apaixonava-se facilmente e aborrecia-se com a mesma rapidez; não gostava de se sentir presa mas envolvia-se com homens tão instáveis quanto ela. Queria muito ser mãe e sofreu vários abortos, uns atrás dos outros, algo que a foi destruindo, acabando por entrar numa fatal espiral decrescente.

Sobretudo a partir dos 30 anos, Marilyn o escrutínio público da sua vida privada revelou-se insuportável e levou-a a ceder mentalmente. Bebia demais, tomava comprimidos, tinha episódios raivosos e outros depressivos, isolava-se do mundo e, de seguida, procurava no glamour de Hollywood o conforto que ele nunca lhe pôde dar. As suas inseguranças tornaram-na obsessiva com o trabalho: repetia vezes sem conta todas as cenas, não decorava falas e desenvolveu um medo do palco, acabando por fracassar até enquanto atriz.

“Apenas duas gotinhas de Chanel nº5." (A provocadora resposta a um jornalista que lhe perguntou, em 1955, o que usava para dormir).
“Apenas duas gotinhas de Chanel nº5.”
(A provocadora resposta a um jornalista que lhe perguntou, em 1955, o que usava para dormir).

A “vela ao vento”, como a descreveu Elton John, acabou por se apagar. Marilyn desistiu, aos 36 anos. Foi encontrada em casa, morta, na sequência de uma overdose. Ficou a memória do espírito indomável, da sua liberdade sexual, da irreverência enquanto mulher, características combinadas com um enorme talento, inteligência e beleza. Ainda hoje Marilyn é uma mulher diferente, com todas as forças e fragilidades das mulheres num corpo que se revelou pequeno para tanta alma.

 

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