“Gostamos muito da natureza efémera do papel”
Amy Flurry é, a par de Nikki Nye, uma das autoras do projeto Paper-Cuts, que transforma simples folhas de papel em verdadeiras obras de arte. A artista, que deixou para trás uma carreira como jornalista, escritora e editora em publicações de moda nos Estados Unidos, esteve na inauguração da exposição SuperWomen, no CascaiShopping.
Além de ter apresentado cada uma das 20 peças que compõe a exibição – das quais 10 criadas em exclusivo para este evento – Amy Flurry falou um pouco sobre o percurso que o projeto que nasceu em 2009 e agora chega a Portugal teve e deu a sua opinião acerca do que é hoje em dia ser uma supermulher.
Em Portugal pela primeira vez, a artista garante ainda ter ficado apaixonada pelo nosso País.
Como começou o projecto Paper-Cuts?
Tanto eu como a Nikki estávamos num ponto de viragem das nossas vidas. Eu tinha uma carreira como escritora e editora de moda. A Nikki tinha uma boutique de moda em Atlanta, Geórgia [Estados Unidos]. Na altura da crise estava tudo mal. O mercado da moda estava triste, a Nikki decidiu encerrar a boutique e acabámos por nos sentar as duas a beber um copo de vinho e a falar sobre o que seria o nosso futuro. Achámos que era nossa obrigação fazer alguma coisa em nome da beleza.
“Tínhamos de criar uma coisa sobre a qual só se pudesse dizer bem, que se pudesse simplesmente apreciar.”
Como assim?
Estávamos rodeadas de negativismo. Todas as notícias eram más. A toda a hora. Ligávamos a televisão e não havia um único elemento positivo. É certo que estávamos no auge da crise [2009], mas sentimos que, se íamos criar alguma coisa, teria de ser algo incontornavelmente positivo. Tínhamos de criar uma coisa sobre a qual só se pudesse dizer bem, que se pudesse simplesmente apreciar.
E a escolha do papel como material principal da vossa arte, como é que surgiu?
O papel é um material muito simples. A Nikki já tinha criado algumas peças sozinha, coisas pessoais, e, portanto, tinha já muita facilidade de manusear este material. Por isso, foi uma coisa natural. Pensámos, vamos usar este material tão simples como a nossa assinatura, a nossa imagem de marca. Até porque quisemos sempre manter as nossas peças muito simples.
Que tem o papel de tão interessante como material de trabalho?
Nós gostamos muito da natureza efémera do papel. O papel é efémero assim como a moda é efémera. Não é uma coisa de pedra que dura para sempre. É algo muito mais passageiro. As pessoas quando se aproximam e admiram as nossas peças sabem que estão a olhar para uma coisa que não vai durar para sempre, que eventualmente vai acabar por desaparecer.
É um material complexo para trabalhar?
O papel é muito delicado e exige muita atenção. Para ter noção, cada peça que criamos demora entre 40 e 50 horas a preparar…
“A mulher é um ser multidimensional. Com muitas facetas.”
Para a exposição SuperWomen trouxeram algumas peças da vossa própria coleção, mas criaram também 10 modelos exclusivos. Qual foi a inspiração para estes modelos?
Quando nos pediram para produzir peças especiais para esta exposição explicaram-nos que o conceito associado era o de supermulher. E foi a partir daí que começámos a trabalhar. Porque há uma mistura entre o lado mais mitológico, mais de super-herói, mas há também o lado da supermulher real. E foi isso que tentámos traduzir em cada uma destas peças.
E o que é, afinal de contas, uma supermulher?
A mulher é um ser multidimensional. Com muitas facetas. E falamos por nós, claro, que somos mães e artistas e ainda temos muitos outros interesses e obrigações. E uma supermulher é, para nós, isso mesmo. Alguém capaz de estar em vários lados, dar tudo de si em vários aspetos muito diferentes do nosso quotidiano.
Veja-se, por exemplo, o caso de Hillary Clinton. Está muito perto de ser eleita a primeira mulher a assumir a presidência dos Estados Unidos, mas ainda assim consegue ser esposa, mãe, e desempenhar uma série de outros papéis e responsabilidades na sua vida.
Esta é a primeira vez que estão em Portugal?
Sim, é.
O que estão a achar do nosso País?
Para nós é um verdadeiro sonho. Conhecemos Lisboa e apaixonámo-nos por Cascais. Nos Estados Unidos, quando se fala da Europa, normalmente as pessoas só associam a Paris. Mas a verdade é que Portugal é um verdadeiro tesouro. É um país com uma faceta cultural enorme, com imensa história, mas que, de alguma forma, ainda não está no centro dos destinos mainstream de turismo. E isso é algo que nos agrada muito.