Férias depois das férias precisam-se?
Vejo muita gente de língua de fora depois das férias com as suas adoráveis criancinhas. Gente com olheiras, gente que regressa mais cinzenta do que quando partiu para os Algarves ou Alentejos desta vida, gente que parece carregar o peso do mundo nos ombros. Quando perguntamos um singelo “está tudo bem?”, a resposta é um chorrilho de desabafos, queixumes, lamentações, gemidos, que logo nos faz arrepender de termos feito a pergunta.
Estar 24 horas sobre 24 horas com os filhos é, para muitos, um desafio.
Eu consigo compreender que as férias com crianças possam ser mais cansativas que o próprio trabalho, durante o ano. Afinal, eles são exigentes, cansativos, dependentes, e muitas vezes chatinhos. Estar 24 horas sobre 24 horas com os filhos é, para muitos, um desafio. Sobretudo porque as vidas de muitos obrigam a um regime de encontros quase fugaz durante a semana, e ao fim-de-semana entre atividades e festas de aniversário a relação pais/filhos vai-se levando com alguma descontração.
É nas férias que a relação se torna mais próxima… para o melhor e para o pior.
Confesso que não vejo as férias com filhos desse modo, estafante e calamitoso. Porque para mim férias é sinónimo de liberdade e quebra de rotinas. Estamos juntos, mas eles também têm muitos amigos com quem brincar, passamos os dias na praia até ser de noite, os únicos cozinhados que fazemos são as sandes que levamos para a praia e uma ou outra refeição (porque ou estamos tão estafados que, à noite, engolimos uma fruta e um iogurte e queremos é dormir; ou então jantamos fora), não há horários rígidos nem regras pré-definidas, deitamo-nos tarde, os mais pequenos podem não dormir a sesta, não há a obrigatoriedade da sopa.
Nas férias, regemo-nos pela lei do “logo se vê”, sem stress. Só assim descansamos. Só assim não voltamos pior do que fomos.
Fico sempre com a ideia – talvez errada – de que quem vem de língua de fora das férias é quem não se obriga a descontrair.
Fico sempre com a ideia – talvez errada – de que quem vem de língua de fora das férias é quem não se obriga a descontrair. Quem insiste obsessivamente na parentalidade perfeita, com sestas, sopas, banhos, e horas certinhas para tudo. Se me tiver enganado, no seu caso em especial, as minhas desculpas. Se tiver acertado… fica a dica de quem já regressou dos Algarves em pior estado do que quando foi: experimente libertar-se para o ano. Eles não se deseducam em 15 dias e vai ver como as férias lhe vão saber… a férias.