Crítica vs Público: O Despertar da Justiça
No reino da Sétima Arte, as últimas semanas ficaram marcadas pelo debate online entre as funestas opiniões da crítica profissional sobre o mais recente filme da DC (em parceria com a Warner Bros.) “Batman vs Super-Homem: O Despertar da Justiça” e os seus estrondosos resultados de bilheteira e consequente aceitação pelos admiradores e fãs das históricas personagens dos comics norte-americanos. Tendo o filme de Zack Snyder já arrecadado mais de setecentos milhões de dólares em todo o mundo, estando ainda em exibição, qual será afinal a influência do crítico de cinema em pleno Séc.XXI?
Vamos tentar explorar o assunto. O que é um crítico de cinema e qual o seu papel na era da informação instantânea? Duas questões, entre muitas outras, que têm sido alvo de investigações e estudos minunciosos além fronteiras, mas que parecem passar despercebidas em Portugal, onde o desprezo e a desconsideração pela geração internet prevalece sobre as alterações profundas que esta questão provocou nos media norte-americanos.
Com a Internet, o crítico de cinema tradicional perdeu o seu estatuto divino. A sua opinião deixou de ser elitista para ser apenas mais uma entre milhares.
O que diferencia então o assim chamado crítico profissional de cinema do analista amador que executa exactamente as mesmas tarefas para um blogue ou para um site especializado, sem as mordomias destes e, em muitos casos, sem as mínimas condições para tal? Com a Internet, o crítico de cinema tradicional perdeu, um pouco por todo o lado, o seu estatuto divino. A sua opinião deixou de ser elitista –apesar de a personalidade em si ainda o ser -, para ser apenas mais uma entre milhares. O poder passou, justamente, de quem escreve para quem lê.
Com a infinidade de opiniões sobre uma mesma obra à distância de um clique, o cinéfilo ou mero leitor curioso pode agora escolher aqueles em quem confiar. A credibilidade, o crédito e a confiança é dada pelo receptor, maioritariamente na base da comparação artística entre a sua opinião e a do transmissor. O background do crítico tradicional, certamente especializado na área, com provas dadas no ramo, deixa de ser um trunfo de fogo. Aliás, acaba por se tornar num feitiço perigoso para o feiticeiro. Isto porque o profundo conhecimento leva-o a dispersar-se nos seus julgamentos, levando a que o cinéfilo de ocasião não se identifique – ou não compreenda – a análise. E hoje, num período onde a desinformação prepondera sobre a informação, é mais importante saber do que se escreve do que escrever o que se sabe.
Mas porquê tanta conversa? Será o crítico de cinema assim tão importante? Qual a credibilidade de uma esfera de opinião que considerou, na altura de estreia de Metropolis, de Fritz Lang, Blade Runner de Ridley Scott, Psycho de Hitchcock e Peeping Tom, de Michael Powell, apenas para citar alguns, filmes banais como tantos outros, mas que agora os tomam como obras-de-arte? Qual a influência de uma classe que, mesmo quando estrangula blockbusters como o último Indiana Jones ou este Batman v Super-Homem, não retira qualquer espectador da sala de cinema? Ou que, quando aplaude de pé produções mais modestas, não impede que as mesmas passem despercebidas nas salas de cinema?
A conclusão é tão simples quanto retórica; no debate cinematográfico, o que é a razão? E, mais importante, o que é a verdade?