Bob Dylan de A a Z

Tudo o que precisa de saber sobre o novo Prémio Nobel da Literatura está aqui. As músicas inesquecíveis, os filmes em que participou e, claro, os livros que escreveu

Foi um anúncio mesmo surpreendente. A verdade é que ninguém estava à espera que o Prémio Nobel da Literatura fosse atribuído a Bob Dylan. Que o digam Haruki Murakami, Philip Roth, Ngugi Wa Thiong’o ou Adonis. Mas, o escritor e músico, tem um legado imenso e compôs alguns dos temas mais conceituados na história da música contemporânea.

As décadas passaram e o legado e a influência de Bob Dylan na música popular cresceram com ele

Dylan, que nasceu em 1941 na cidade de Duluth, no Minnesota, nos EUA, começou a ter os primeiros projetos na escola secundária onde tocava covers de músicos como Elvis Presley e Little Richard. O disco de estreia chegou em 1962, quando tinha 21 anos, e serviu de apresentação: chamava-se precisamente “Bob Dylan” e tinha os primeiros temas de folk do músico.

As décadas passaram e o legado e a influência de Bob Dylan na música popular cresceram com ele. Nos anos 60, 70 e 80 lançou 26 álbuns. O último disco, “Fallen Angels”, foi editado em maio. Ao longo dos anos, Bob Dylan também editou vários livros de arte e poesia. A Academia sueca justificou a escolha de Bob Dylan “por ter criado novas formas de expressão poética no quadro da grande tradição da música americana”.

A propósito da conquista do maior prémio literário do mundo, veja aqui as músicas, livros e filmes que o vão ajudar a compreender melhor a obra de Dylan.

5 músicas incontornáveis

Mesmo que não seja um especialista em Bob Dylan, há músicas que seguramente já ouviu muitas vezes. Para ficar a conhecer melhor os sons – e as letras – que valeram ao cantor o prémio Nobel, o ideal será comprar uma coletânea com os melhores êxitos da carreira de Dylan. Essential Bob Dylan é um álbum com dois CD que está à venda na Fnac por 27,90€.

“Blowin’ in the Wind”(1963)

Um dos temas mais folk do músico que fala sobre paz, guerra e liberdade, e um dos que o tornaram mais conhecido, logo em 1963, quando foi lançado em “The Freewheelin’ Bob Dylan”.A faixa teve centenas de covers de todo o mundo: de Peter, Paul and Mary a Stevie Wonder, além de versões estrangeiras com letras em sueco e alemão.

Times Are a-Changin'” (1964)

Inspirado nas baladas irlandesas e escocesas, este tema foi criado para ser um hino de apelo à mudança, em relação aos direitos civis e às desigualdades sociais nos EUA. É um dos maiores temas de protesto de sempre.

“Like a Rolling Stone” (1965)

É uma das músicas mais marcantes da carreira do músico e faz parte de “Highway 61 Revisited”, o segundo disco que Dylan lançou em 1965. Os 6 minutos e 13 segundos do tema não impediram que “Like a Rolling Stone” se tornasse um grande êxito de rádio.

O tema, cuja letra é baseada num conto não editado de dez páginas escrito por Dylan, salvou-lhe a carreira. Numa entrevista à “Playboy” em 1966, o músico disse: “Na primavera passada, acho que ia desistir de cantar. Mas a “Like a Rolling Stone” mudou tudo. Era algo de que eu próprio gostava”.

Em 2014, um rascunho da letra original foi vendido num leilão por quase dois milhões de euros. Sem surpresas, é a melhor música de sempre para a revista “Rolling Stone”

“Hurricane” (1975)

Dez anos depois, Bob Dylan lançou “Hurricane”. O single fazia parte de “Desire” e baseava-se na história de Rubin “Hurricane” Carter, um pugilista negro que tinha sido condenado em 1966 por triplo homicídio, supostamente por questões raciais.

Dylan leu a história de Carter na autobiografia do lutador, onde declarava a sua inocência. O músico visitou-o na prisão e acabou por escrever acerca da história, como forma de protesto.

Tangled Up in Blue” (1975)

É considerado um dos temas mais complexos e um dos melhores exemplos para apreciar a escrita de Bob Dylan. Na letra, o músico mistura os tempos verbais do passado, do presente e do futuro, criando uma narrativa com várias dimensões.

Dylan inspirou-se no movimento artístico do cubismo, que procurava representar diferentes perspetivas. O jornal “The Telegraph” descreveu-a como “uma das letras mais deslumbrantes alguma vez escritas”.

5 filmes com o dedo de Bob Dylan

“Don’t Look Back”, de D.A. Pennebaker (1967)

O documentário de 1967 foca-se numa das principais digressões da carreira de Dylan, em Inglaterra, em 1965, com muitas imagens de bastidores de concertos e de encontros com outros músicos.

O Furacão”, de Norman Jewison (1999)

O filme realizado por Norman Jewison conta a história de Rubin “Hurricane” Carter, o pugilista que foi condenado por triplo homicídio e que serviu de inspiração para o single “Hurricane”. Denzel Washington interpreta o pugilista que foi libertado em 1985, depois de ter sido absolvido.

“No Direction Home: Bob Dylan”, de Martin Scorsese (2005)

É um documentário realizado por Martin Scorsese e foca-se na carreira de Dylan entre 1961 e 1966. Do ponto em que se torna o principal cantor de folk dos EUA até se tornar conhecido como um músico de intervenção e um ícone da música popular.

“I’m Not There – Não Estou Aí”, de Todd Haynes (2007)

Seis atores representam diferentes facetas e personas de Bob Dylan, num filme inspirado pelas “suas muitas vidas”. Christian Bale, Cate Blanchett, Marcus Carl Franklin, Richard Gere, Heath Ledger e Ben Whishaw interpretam o músico em storylines separadas.

“Inside Llewyn Davis”, Joel e Ethan Cohen (2013)

Realizado pelos irmãos Joel e Ethan Cohen, “Inside Llewyn Davis” não é sobre Dylan, mas sobre o movimento da música folk dos anos 60, apesar de o músico aparecer representado numa das últimas cenas do filme. Oscar Isaac interpreta Llewyn Davis, um cantor de folk que luta para chegar ao topo da indústria musical.

5 livros

“No Direction Home: The Life & Music of Bob Dylan”, de Robert Shelton (1986)

O antigo jornalista do “The New York Times” Robert Shelton tem no currículo a peça que fez com que Dylan se tornasse conhecido, em 1961. 25 anos depois de ter escrito a crítica ao disco de estreia, Shelton escreveu um livro sobre toda a história e o fenómeno de Bob Dylan.

“And a Voice to Sing With: A Memoir”, de Joan Baez (1989)

Foi escrito por Joan Baez, uma das grandes colaboradoras de Dylan ao longo da sua carreira e uma das suas paixões, que inspirou vários temas. A música escreve as suas memórias neste livro e conta vários episódios da sua vida com Dylan e do trabalho feito pelos dois.

“Chronicles: Volume One”, de Bob Dylan (2004)

Não há ninguém que possa contar melhor a história de Bob Dylan que o próprio Bob Dylan. O primeiro (e até agora único) volume da sua autobiografia foi editado em 2004 e revela tanto a visão do autor sobre a sua obra como sobre a sua vida pessoal.

“The Bob Dylan Encyclopedia”, de Michael Gray (2006)

O título é explícito. É uma autêntica enciclopédia sobre Bob Dylan e sobre todo o seu percurso, carreira e legado. Foi o resultado de 30 anos de pesquisa de Michael Gray, especialista em escrever sobre música.

“Revolution in the Air”, de Clinton Heylin (2009)

Este livro não se foca tanto na pessoa, mas sim nas próprias letras dos temas de Dylan. Aqui há comentários, interpretações literárias e curiosidades sobre os versos de todas as faixas do músico lançadas até 1973.

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