A animação tomou conta da minha vida

Sou apaixonado por cinema. Sempre fui. E sou daqueles maluquinhos que veem os filmes vezes sem conta, que antecipam as falas e que estão sempre a dizer para o lado “olha agora, esta cena a seguir é genial”. Especialmente se estivermos a falar de Scorcese, Tarantino ou Paul Thomas Anderson.

Hoje em dia ir ao cinema é, inevitavelmente, sinónimo de ver filmes de animação

E se antigamente estava sempre a caminho da estreia da semana, a verdade é que hoje em dia ir ao cinema é, inevitavelmente, sinónimo de ver filmes de animação. A culpa é, claro, dos miúdos. Nos últimos meses reparei que sei tantas linhas do “Frozen: A idade do Gelo” ou do “Divertida Mente” como do “Pulp Fiction” ou do “The Departed – Entre Inimigos”. Neste momento, é mais fácil apanharem-me a dizer “olá, eu sou o Olaf e adoro abraços calorosos” do que a imitar o Joe Pesci com o mítico “What do you mean I’m funny? Funny how?”.

Não foi um corte drástico: os meus DVD’s continuam em casa e volta e meia lá me fecho na sala a imitar o Tony Montana, mas na maior parte das vezes estou no chão, de pernas cruzadas a vibrar ao lado dos meus filhos com as peripécias do Arlo na sua longa viagem – e o coitado do dinossauro tem mesmo uma vida bem tramada. E apesar da vergonha de ser um adulto a dizer “adoro abraços calorosos” ou a cantar “Hakuna Matata”, a verdade é que estou a descobrir que não me importo muito.

Estou desejoso pelo dia em que os meus filhos decidam trocar “A Vida Secreta dos Nossos Bichos” pelo “Esquadrão Suicida”.

Em primeiro lugar, porque não há dinheiro que pague o tempo passado com os miúdos, a cumplicidade que se constrói à volta de um filme e as piadas privadas que só nós percebemos e nos fazem rir à gargalhada enquanto todos olham para nós. Mas também porque o cinema pode ter um papel muito importante no crescimento dos miúdos. Dá-lhes mundo que não conseguem ter porque ainda são pequenos. Deixa-os viajar sem saber ler nem sair do mesmo sítio.

Mas confesso que estou desejoso pelo dia em que os meus filhos decidam trocar “A Vida Secreta dos Nossos Bichos” pelo “Esquadrão Suicida”. É que ver estes filmes numa sala de cinema é bem mais interessante que na televisão… Eu tinha 8 anos quando vi o “’Non’, ou A Vã Glória de Mandar” e fui umas três vezes ao cinema ver o “Regresso ao Futuro”. Espero que não falte muito para este dia chegar e me libertar deste feitiço digno de uma Mãe Gothel que é gostar tanto das aventuras do “Toy Story” como da saga “Jason Bourne”.